Isto é o patchwork da minha vida. Estou costurando, remendando o que não compreendi, fazendo os arremates do que terminou mal, alinhavando o que ainda é novo. Recortando o que desprezo e revirando velhos baús para fazer apliques em peças novas e ousadas. Talvez eu precise de bolsas de pano para viajar ou apenas de uma colcha de retalhos que me aqueça. Tenho tentado costurar direitinho, achar o melhor caimento nessa vida para a qual não existe molde perfeito. Senta aí.Talvez você possa me ajudar.
Jornalista, 35 anos, esposa de Júnior e mãe de Luísa. Filha da filha de uma das filhas de Dona Raimunda, uma nortista de Babaçulândia (TO) que um dia arrumou sua matula com um punhado de farinha de puba misturada com carne seca e sumiu no mundo mascando seu fedorento fumo preto e arrastando o chinelo no poeirão vermelho à procura de um lugar para ser feliz. Penso já ter achado o meu - minha família - e nele luto contra meus próprios demônios. Cinéfila, hipocondríaca, perfeccionista, portadora de toc (ou não), espancadora de teclados. Um ser aparentemente comum, plena de desejos não realizados e outros tantos já satisfeitos. Esposa e mãe apaixonada. Centralizadora. Manipuladora. Escandalosa. Sensível. Doce. Terrível quando amarga. Boa ouvinte. Péssima ao telefone. Leitora ávida. Exímia conhecedora de bulas e portadora de medicamentos. Boa amiga. Gulosa. Dorminhoca. Franca. Objetiva. Em luta para dominar a própria ira. À procura do Deus que vive em mim. Viva, muito viva. E morta de medo da morte, que é a única coisa no mundo que não posso controlar. Ou penso que não posso (ou não). Vai saber...
Música do Post: Não vá ainda (Zélia Duncan) Frase do Post: "Levanta-te e anda" (Jesus Cristo)
Não vá ainda, rapaz ! Refaça esse lead. Ele é o mais errado que você já ousou escrever. E você, que de tudo parece saber um pouco, agora nem me reconhece. Estou aqui, impotente, da janela do meu apartamento vendo este prédio enorme lá fora, cheio de ambulâncias chegando e saindo, ciente de que você está ali, em alguma sala fria, rodeado de estranhos que se vestem de branco e que, no entanto, te podem salvar a vida. Não vá ainda, rapaz. Espera o anoitecer da sua vida. E ele haverá de ser muito estrelado. Ainda é dia, dia de sol, de calor. Muita coisa a fazer ainda. Te levanta ! É ordem. Costumavas obedecê-las com uma disciplina irretocável... Ei, o tempo está passando, as pessoas estão vivendo, correndo, com horas marcadas, desmarcando compromissos e criando novos. Pegue teu prumo. Onde estávamos mesmo? Desse jeito você vai chegar atrasado. Para a aula, para o estágio, para me ver e jogar conversa fora. Corrija esse erro. Só pode ser um engano. Esse seu texto está todo errado, não é por aí. Refaça esse lead, rapaz! O "quando" não é agora. O "quem" costumava ser mais teimoso, não aceitaria isso assim, sem lutar, esbravejar. Cadê sua fúria? Onde foi parar sua fé? Não é você aí, inerte. Refaça esse lead. As informações não batem. Não me deixe nessa, cara. Não você, que tantas vezes me viu chorar, que tantas vezes me mandou reagir. Eu é que desabo, não é você. Não inverta os papéis. Onde está o rapaz cheiroso e cheio de estilo que me ligava e, com uma habilidade fenomenal, nem me deixava falar: "Péra, Patrícia! Fica calada ! Eu preciso falar tudo agora, preciso desabafar agora, senão acabo matando um idiota". Sempre foi assim, não é ? Pois me liga de novo. Me liga e me diga que isto é só um pesadelo. Me liga e me mande esperar enquanto você vomita suas observações impacientes sobre a incompetência e a indolência humanas. Refaça esse lead, rapaz ! Não vou aceitar esses dados, são incoerentes. Estou editando isso que tenho visto e não quero outra notícia, senão a de que você está bem. A de que você é de novo o Cleomar, alinhado, antenado, informado e metido a besta. Refaça esse lead antes que eu me desfaça.