domingo, 28 de junho de 2009

Charada






Música do Post: Apesar de você (Chico Buarque)


Frase (trecho) do Post: "Preste atenção querida.
Embora saiba que estás resolvida.
Em cada esquina cai um pouco a tua vida.
Em pouco tempo não serás mais o que és.
Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés..."
(Cartola)

Me faltam palavras, por hora
Então tomei de empréstimo as sugestões de um grande e brilhante amigo
Pois, se há algo que não se exonera, é amizade
Neste momento sou uma leoa
abatida por uma tiranossauro rex
Mas em breve volto aqui com meu típico furor.
Aguardem !

terça-feira, 23 de junho de 2009

Oh, querida ! Pra longe de mim...

Música do Post: “Tô fraca, tô fraca, tô fraca, tô fraca” (galinha d'angola – a ave mesmo)

Frase do Post: “Seja quente ou seja frio. Não seja morno, que eu te vomito” (Apocalipse, cap. 3, vers 16)





Oh, como são legais ! Boazinhas, ajustadinhas, falam baixinho, pausadamente, te chamam de “queridinha”, sempre sorrindo daquele jeitinho ensaiado e amarelo. Rã-rã-rã. É assim que elas riem, sem nem prestar atenção ao porquê de estarem rindo. É automático, diplomático. E só. Educadíssimas, parecem ter sido talhadas para a vida social. Ai como são controladas, constipadas, bem apanhadas, com todos os fios do cabelo impecavelmente no lugar ! Eu não. Despenteada, minha raiva é um furor altamente destrutivo. Meu amor machuca suas vítimas. Eu não trabalho, sou um trator. Não durmo, quase levito, quase morro. Não como, devoro. Não tenho medo, mas pavor. Não penso, na verdade conspiro, confabulo, teorizo. Não sei sorrir, dou gargalhadas e faço xixi nas calças. Não testei, mas é bem possível que minha fé remova montanhas. E não, não sou educada. Sou gente. E trato as pessoas como são. Gente.
“Mas as pessoas da sala de jantar estão ocupadas em nascer e morrer”, como diriam os Mutantes. Elas não se permitem isso e se consideram ponderadas, mas prefiro chamá-las de fracas. Fraquíssimas. Precisam da estrutura montada, adequada, apropriada, quadrada, para se sentirem protegidas. Precisam do muro, para ficar em cima dele. Precisam das horas contadas, dos diálogos ensaiados previamente no espelho, devem até marcar a hora de fazer o amor. Seus filhos são planejados, elas tem dinheiro na poupança e previdência privada. Andam por aí com uma sacola de elogios. “Que lindinha sua filha, gordinha né ? Sinal de saúde ! Rã-rã-rã”, “Que escândalo ficou seu cabelo, meio zebra com essas listras louras e castanhas ! Rã-rã-rã”, “Doente? Coitadinha, mas aí você vai poder assistir à Sessão da Tarde, né? Rã-rã-rã”. Ô risinho insuportável !
Valha-me Deus, como são enfadonhas, patéticas, essas gentes ! Andam pela vida como se numa gincana, a segurar pela boca uma colher com uma maçã na ponta. Quem chegará primeiro? E a maçã não cai. E a maçã não cai mesmo, de jeito nenhum, porque essas pessoinhas são jeitosas, cuidadosas, equilibradas. Não como eu, que tomo Rivotril e arrumo minhas almofadas da sala no lugar para, desleixada, não ter de ajeitar o que está desarrumado dentro de mim. É... porque tenho desarranjos mesmo. Sou gente. Tenho angústias, fobias, desespero, cismo com coisas tolas, me engano com pessoas , erro muito, sonho em como vai ser minha vida se ganhar na mega-sena, faço e falo asneiras.
Mas essas pessoas não. Previdentes, desconfiam de tudo e de todos. Não correm riscos. Não tem amigos, porque é caro tê-los. Exige respeito, humanidade, autenticidade e, sobretudo, coragem. E pessoas fracas não sabem o que é isso. Não sabem que força não é não ter medo. Não é ser previdente. Força é assumir posições – e como isso é difícil (!) - e defendê-las se for preciso. Força é, sendo humano, enfrentar o medo; sendo doente, medicar-se; sendo frágil, pedir ajuda; sendo gente, ser gente.
"Ah, não, mas está tudo bem comigo. Meus filhos são os melhores da escola, não sabem o que é cárie nem pneumonia, meu marido é trabalhador e honesto, minha família é uma propaganda de margarina. E meu cabelo é liso de verdade". E quando chegam em casa, arrastando o velho sapato de marca reformado incontáveis vezes, está tudo errado. As almofadas da sala também estão bagunçadas, os filhos são uns pentelhos cheios de manias estranhas, seus maridos já desistiram delas e não há margarina na geladeira, porque engorda. Elas caminham em direção ao banheiro para desfazer a maquiagem mas não se esquecem, contudo, de abrir sua confiável agenda e marcar hora no cabeleireiro para a escova progressiva.
Oh, querida, a vida não é uma gincana. Quanto tempo perdido em mentiras e fantasias quando tudo poderia ser compartilhado ! Experiências, vivências, expectativas ! Você leva a vida de um jeito morno que me embrulha o estômago.
Oh, queridinha, minha filha tem uma letra horrível e toma aerosol desde os 9 meses, eu quase morri de pavor quando ela nasceu porque aquilo tudo era muito difícil pra mim. Nem por isso me sinto menor. Meu marido ronca demais e me chateia muitas vezes. Nem por isso o acho menor. Eu mesma sou uma mulherzinha muito da insuportável que o aporrinha com essas frescuras de esposinha-pequeno-burguesa. Nem por isso somos menores. Estou vivendo de um jeito muito vivo e verdadeiro. O sol continua ardendo, as crianças nascendo, os idosos morrendo, as vacas dão leite e os porcos chafurdam na lama. As pessoas nas ruas fazem planos. Fazem planos deitadas em suas camas enquanto esperam o sono chegar, fazem planos o tempo todo, fazem planos dentro das igrejas e contam para Deus. E todas vão vivendo de um jeito verdadeiro. Pelo menos aquelas com quem gosto de me relacionar.
Aonde você pensa que chegará nessa pose ridícula, segurando uma colher na boca com uma maçã na ponta? Com quem, pensa bem, com quem você está competindo? Não gosto de gincanas. Sempre roubei as maçãs maiores e as mais vermelhas e as comi sem medo de ser pega em flagrante porque assim esse simples pecado se tornava sempre mais prazeiroso...

domingo, 14 de junho de 2009

Meu marido...o rei


Música do Post: "Your Love is King" (Sade)

Frase do Post: "Não conheço ninguém que conseguiu realizar um sonho sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes" (Roberto Shinyashiki)






Quando muito jovem
ele fora o bôbo da Corte
Zombavam dele
porque não tinha moedas de ouro
ou cavalos velozes
E diziam que, com sorte,
seria o açougueiro do povoado.
Ele ria, triste e acabrunhado.
Mais tarde, tornou-se um devasso
Conheceu quase todas as moças do reino
E a quase todas encantou
Com seu charme e seus talentos inenarráveis.
Eram festas e mais festas
Sempre muito concorridas
E ele seguia numa valsa louca e desenfreada
Para desespero da jovem que um dia ele desposaria
E que o amara desde o primeiro instante.
Mas ele seguiu seu curso
Com viagens infindáveis por outras paragens muito longínquas
E conheceu mais de quase tudo
E, quanto mais conhecia,
Mais lia
E quanto mais lia, mais culto ficava
E aqueles que um dia haviam zombado dele
Chocaram-se ao revê-lo tempos depois
Tão seguro de si
Tão forte
Tão sereno
Tão superior.
E especulava-se, à boca pequena, o que houvera, afinal.
Casou-se por vontade própria e muito contente
E uma filha ele teve anos depois
e juntas elas lhe deram um novo sentido à vida
Já não necessitava de tantas festas
e diversões que tais
Para sentir-se bem
Ele queria mais
Muito mais.
Na verdade, ele sempre havia querido mais
Era um velho projeto muito arrojado
com o qual sonhara desde menino
E seu avô
o elegante e sempre impecável patriarca da família
Octávio Pacheco Pompeo de Camargo
chegara a dizer certa vez à mesa
que seu neto nascera para ser um grande
mas não lhe deram ouvidos, talvez
porque ele havia bebido um pouco mais naquele dia
O ancião, contudo, tinha razão
Mas é difícil destruir o monstro que rói nossa auto-estima
Para enfrentá-lo, ele levara anos e anos e anos
E sua companheira sabia, sempre soubera,
Que ele era capaz.
Mas ele não
Por um tempo, ele não soube
Agora, contudo, destruído o monstro,
Ele resolvera preparar-se para a grande viagem
Mas o fato, o grande fato, é que
independente de tudo
Ele era um rei.
Nascera rei.
Já o era bem antes de chegar a seu templo
Seus ancestrais, como é de se ver, sabiam disso
Sua esposa sabia disso
Ele sabia disso
E, por essa razão, pouco importaria
quanto tempo iria durar a caminhada até o templo
Ele já era um rei.
Em seus dizeres
Em seus saberes
Em seus gestos e atitudes
Tudo denunciava sua inata majestade
Os que o amavam não se importavam com o tempo da travessia

Sua esposa teria de ser forte o suficiente para suportar a ausência de seu amor
enquanto ele corria atrás de seu sonho
Não haveria domingos nem feriados naquela corrida
nem mesas fartas
nem honrarias
Mas o tempo e os sacrifícios não importavam
Afinal, é próprio de um rei enfrentar longas e terríveis batalhas
E quem se destina a acompanhá-lo
Deve estar preparado para isso
Ela bem o sabia


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ah, minha mãe, menininha...

Música do Post: Tocando em frente (Almir Sater/Renato Teixeira)
Frase do Post: “Teu colo...teu colo... eternamente, teu colo” (Chico Buarque)




Ela sempre teve aquele jeito desconcertante de enfiar as coisas no peito. Era chave, dinheiro, correspondência, carretel de linha, carnê de pagamento, documento, presilha, o diabo. Cabia tudo, tudinho mesmo. Oito anos de idade, eu ficava me perguntando se aqueles peitos eram, na verdade, um buraco sem fim ou se, pelo contrário, aquilo não se tornava visualmente muito esdrúxulo. Olhava bem de perto, de diferentes ângulos mas... nada. Nada dava a entender que tava tudo ali tão bem guardadinho.
Sempre tão viva e rueira, lá se ía ela pelo bairro – eu na cola – a fazer corriqueiras visitas às vizinhas. E depois do café com prosa, costumávamos dar uma passadinha na mercearia, ela com seus peitos, eu com os olhos vidrados nas balas, chicletes e outras guloseimas sempre tão coloridas e açucaradas. E então se comprava de um tudo, mas nada doce, “que isso dá cárie”. Ia enchendo a cesta com um quilo de carne, bananas, fósforo, café. Na hora de pagar, não havia bolsa, não havia carteira, nem anotações na caderneta. Como quem enfia a mão no bolso, ela tirava o dinheiro lá do meio dos confins daqueles peitos enormes, para onde eram levados também, em seguida, as moedas do troco. Da primeira vez, o dono do mercado, Seu Rubens, levantou suas grossas sombrancelhas por detrás do balcão – não sei se embasbacado ou curioso – mas, diante da naturalidade dela, aquilo com o tempo tornou-se, também para ele, algo tão corriqueiro que, ao informar a soma, já olhava para os tais peitos, pois sabia que era de lá que brotariam seus lucros do momento.



Exímia costureira, não havia um único dia debaixo do sol em que ela e seus olhos azul-turquesa não dessem um pulo na loja da aviamentos para assuntar as novidades. Novas tonalidades das Linhas Corrente Drima (só serviam “as de marca boa”), tira bordada, botão, tule e fivela. Tudo era estudado nos mínimos detalhes, tocado, retocado, conversado, desconversado, mastigado e digerido com a vendedora. Na verdade, a julgar pela vida que levava – única filha sobrevivente de um pai alcoólatra e uma mãe esquizofrênica, parideira de quatro e ávida por novidades mas fadada à vida doméstica - era um jeito de ela ter sobre o quê conversar: panos, tecidos e os impactos que suas cores e brilhos – ou a falta deles – poderiam causar na sociedade. E então chegava a hora, aquela em que eu de mansinho cuidava de me esconder por entre os rolos de sedas, chitas e filós para não ver o que fatalmente aconteceria: feito o veredicto e escolhida a peça, lá ía vagarosa a mão no peito, que voltava com uns trocados para adquirir os botões que, por sua vez, eram cuidadosamente acomodados, com o troco, nos peitos de novo. Tudo misturado
Pior era quando ela tinha de contar as moedas. Ai minha Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, que nessa hora eu queria era estar fazendo contas terríveis de matemática, decorando a tabuada ou flexionando verbos no particípio passado. Qualquer coisa para estar longe dali. Ela abaixava a cabeça, ajeitava os óculos, franzia o cenho para olhar com atenção aquela brechinha que forçava com as mãos hábeis entre um peito e outro, por onde então dançavam as moedas, seguras pelo sutiã, permitindo-lhe catar as que fariam a soma exata para o pagamento. Tudo, mas tudo mesmo, sob o olhar incrédulo de vendedores novatos. Por isso eu adorava Seu Rubens. Ele já não se importava mais.
Num dia de rebeldia infantil, lhe pedi balas e ela disse que não havia dinheiro. Ora bolas, impossível um costureira que a toda hora tem de comprar linhas não ter moedas ! Furiosa e no auge da desobediência não fui sorrateira fuçar em gavetas. Não realizei expedições em sua bolsa, sapatos e caixas, tampouco subi em tamboretes para remexer latas velhas escondidas no alto do armário da cozinha. Nada disso. O crime ali tinha de ser cara a cara, peito a peito. Voei sobre os dela em busca das moedas. Não havia nada. Nada nos peitos, mas nos pés umas terríveis havaianas com as quais me ensinou de jeito a não mais desrespeitar-lhe a tal ponto.
Noutra vez, acordei com ela afobada. A casa inteira já houvera sido revirada e nada de achar a chave do barracão dos fundos, onde, além das tralhas de costura, eram guardadas todas as coisas horríveis e indispensáveis da família.


“Quanto mais eu rezo mais assombração me aparece”, bradava ela as havaianas ligeiras já seguramente cansadas de trançar a casa num ziguezague infrutífero atrás da chave. Remela nos olhos, levantei já cabreira e num disparo perguntei: “num estão nos seus peitos?”. A casa parou. Empregada, meus irmãos, lavadeira, a vizinha solidária e mexeriqueira que viera ajudar na caça, todos se entreolharam, pasmos. A dita cuja estava lá. Aliviada e nem um pouco constrangida, minha mãe catou-a de um lance, já saindo agoniada para o quintal, ajeitando o sutiã - “O circo acabou, agora vou ficar aqui nos fundos o resto do dia que tenho de terminar o vestido da Noêmia. Vem pra cá Iolanda. Bora tomar um cafezim enquanto faço uns arremates”, e sentou-se em sua Singer, onde passaria o resto do dia. Tudo sempre terminava assim lá em casa porque, a bem da verdade, minha mãe nunca teve nada de teatro ou mistério. Era a vida como a vida era: o resolvido, resolvido e o que não, fazer o quê? E ela seguia adiante sempre muito forte e confiante em seus sutiãs de alça reforçada.
Com o tempo, e a maturidade, fui percebendo que minha mãe não acomodava apenas pequenos objetos nos peitos. Seu número 50 era suficientemente grande para segurar também dor, angústia e frustrações. As delas e as alheias. E sempre da mesma forma: imperceptivelmente. As lágrimas que eu não via, e a cuja ausência eu creditava minha certeza de sua felicidade de fábula, na verdade se escondiam também em seus peitos. Ficaram lá, guardados, ou melhor, abafados, o sonho não-realizado de ser enfermeira, a perda de três irmãos ainda jovens, as lembranças da cidadezinha pequena, calorenta e melancólica onde nascera e crescera jogando vôlei enquanto meu avô bebia o orçamento da família no bar da esquina, o semblante de minha avó Ana - ou Almerinda, que é como ela garantia se chamar quando eventualmente surtava - a esquizofrênica mais meiga e doce que já pisou sobre a Terra. Estar com ela e suas alucinações fazia a loucura parecer algo muito parecido com estar num filme de Akira Kurosawa com uma pitada positiva de Almodóvar.
E minha mãe levou as tragédias, tristezas e loucuras da família não como quem se curva ao inevitável. Não como uma mártir. Não como quem se sacrifica, mas com um amor devotado e contente. Ela dava banhos em minha avó e se divertia inventando penteados para aqueles cabelinhos branco-algodão. Era fita aqui, presilha ali, baton, brincos, perfumes e tudo o mais que pudesse fazer a velhinha se sentir linda ou mesmo - com sorte - acreditar que era uma estrela da década de 20 em Hollywood. E então minha mãe a colocava na cadeira de rodas e a levava para a porta da rua, onde a avozinha passava o resto do dia sentada, olhando para as pessoas que passavam e eventualmente acenando, como se fosse a rainha da Inglaterra em seu passeio matinal pelo castelo de Buckingham. Minha avó também tinha peitos grandes. Minha mãe herdou os peitos, mas não a loucura. Sempre muito sensata e alerta, acostumou-se a rir de tudo um pouco, a não se preocupar com fofocas de família, nem festas tradicionais, ou o que quer que fosse. Um dia sugeriu, morrendo de rir, que meu pai comprasse pizzas para o Natal. E justificou:"O tal do peru tem gosto ruim, dá trabalho demais e me dá uma canseeeeeeira pensar que o mundo todo tá comendo a mesma coisa". Ela sabia que o irritava nessas horas, e se divertia com isso. Mas tenho certeza: se colasse, ela teria adorado as pizzas, porque seria mais prático e a vida já era complicada demais para ter de seguir convenções que, a seu ver, eram despropositadas. Faz sentido pensando hoje e imaginando que viera de uma família cujo calendário não era uma peça propriamente necessária para a vida.
Aos 20, eu com meus peitos geneticamente grandes, não suportei aquele peso e, debaixo de protestos dela, tirei numa plástica um quilo e meio daquela coisa enorme. Aos 30, não pude amamentar minha filha por causa disso e então vi – flash (!) – naquele tipo de insight que só acontece uma vez na vida – que ser peituda não é para qualquer uma. Não há silicone e não há nem mesmo peito grande natural que engradeçam a alma, que fortaleçam o espírito. Há peitudas despeitadas, e mulheres sem peito muito peitudas. Minha mãe, contudo – e com a licença do amor filial – é uma peituda-peituda, daquelas que olham a vida de frente, com a alça reforçada e as havaianas preparadas para qualquer caminhada. Eu não. Minhas havaianas são do tempo em que a marca virou hit. Meu sutiã é 42 e prefiro os de microfibra que é pra não incomodar, minhas dores eu engulo com água e ansiolíticos e minha filha bebeu Leite NAN. Sem problemas: eu sou assumidamente de granja, mas como qualquer filha de uma caipira que se preze, também dou meus pulos. No pula-pula. Mas pulos, de qualquer forma.