quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Igor



Frase do Post: "Aguente firme, pois tem gente que é pra sempre na sua vida" (Ademar Soledad)

Deu a hora, a de sempre
Que nunca havia sido marcada mas existia pairando nas tardes
E ele não chegou
Mas eu sabia que não viria
Porque dias antes ele chegou como sempre chegava
Sorrateiro, desconfiado
E então
Quando percebia que não era incômodo
Sentava-se do lado de lá do meu computador
E deitávamos falação sobre um tudo

Mas no dia que foi o último
O dia de despedir
Ele chegou sorrateiro, desconfiado
Que, como eu já disse, era como ele sempre chegava
Mas chegou também com o “olhar molhado”
E, como sempre nessas ocasiões tristes
Fingiu que era um cisco no olho
E eu fingi que era um dia normal
E rezei para que não houvesse despedidas
Porque no último ano sofri muitas delas
Renata... Luiz... João... Cléo...Maísa...
E esta, eu sabia, iria me arrasar

Ai meu Deus ! É difícil continuar atravessando a vida
Quando seus amigos tem de ir embora
Tem de ir crescer
e você fica miúdo
e o que antes era uma rotina barata
Se torna uma lembrança dolorida e cara
porque está no passado
E tudo o que foi e não é mais
Mas foi bom
Dói demais

Você sabe que não vai ser a mesma coisa
Você sabe que os dias nunca mais serão os mesmos
Você sabe que ama os seus
Mas que eles tem de seguir, e você também

Quando ele saiu ainda fingindo tirar o cisco do olho
Que então já parecia grande demais para que ele suportasse
Não viu quando amaldiçoei certas propriedades dessa roda-viva da vida
Não viu quando caí num choro desembestado
Não viu quando perdi a compostura
Não soube que fui embora porque não mais conseguia
E agora?
E agora?

. . .

Run, Igor, run !
Já que não tem jeito
Vá fazer o seu cinema
O seu texto
O seu amor
A sua vida
Siga nesta sua fúria apaixonada porque os céticos são entediantes, siga questionando porque o comodismo ainda é o jeito mais burro e rápido de morrer, siga implicando porque os legais são chatos demais, siga sendo você.
Nunca mais todos os dias nossa prosa
Mas pra sempre a memória e a amizade
Meu grande e brilhante amigo

Não vou "seguir me esquecendo de você"

Te amo à morte, coração-pulsante-de-geléia !

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Folia no coração



"Ora bolas, não me amole... o que eu quero é sossego" (Tim Maia)

Tô vendo esse zumzumzum aí
E enquanto tantos se preparam para as festas de suor e samba
Vou me aquietando por aqui mesmo...
No meu canto sagrado, com meus livros, filmes e verdades
Vou é tirar essas fantasias de profissional imbatível
E botar umas roupinhas bem velhas, leves e descombinadas
Vou é silenciar
Me exilar
Lavar os cabelos, tirar o esmalte e trocar os lençóis
Não pretendo ver um único baticum
Nem purpurina
Nunca gostei disso e
na verdade
Minha folia tá é n’alma
E não tem data marcada pra acontecer
Nesses dias vou atrás é dos meus trilhos
Esta fé que brinca de se esconder de vez em quando
Vou é cuidar de fortalecê-la
Tomar uns passes, essas coisas...
Preciso escutar Nina Simone, ou Norah Jones, ou Marisa Monte
E de novo ficar em silêncio
Preparar uma nova receita de peixe
Que é pra ver se aprendo a gostar disso de vez
Deixar uma essência de pitanga arder no difusor
E invadir a casa
Apagar todas as luzes diretas, frias, fortes,
Que me cegam e me cansam
E acender minhas velas
Enquanto pelas janelas entreabertas
Entra um ventinho educado
E balança as pétalas das flores frescas que comprarei para botar no vaso
E por fim,
Vou querer um abraço de meu marido
Seu colo, suas risadas e conversas
E sobretudo seu olhar cúmplice
E, da minha filha, me bastará o direito de vê-la sendo.
E isso, além de sono, água e alimentos,
É tudo o que eu preciso
Para estar viva
E para que a folia se faça em meu coração