sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Antes que seja tarde

Música do Post: Valsa para uma Menininha (Toquinho)
Frase do Post: Não deixe para fazer amanhã o que você pode fazer hoje (desconheço o autor)




Então a catei de impulso e quando dei por mim já estava no elevador, com a pequena olhando para mim, os olhos bem abertos, assustada, vidrada, feliz, confusa. Que fosse pesada, pouco me importou, quis fingir pra mim mesma que ela não estava crescendo tão rápido e perdoar-me por não ter feito isso mais vezes antes. Então, como a um bebê, a acolhi em meus braços e, já no playground do prédio, tratei de empurrá-la no balanço, diverti-la na gangorra, rodar com força o gira-gira, até que ela jogasse para trás a cabeça, com o inconfundível sorriso de dentes muito pequenos, enquanto seus cachos seguiam em rota centrífuga, blindados pelos raios do sol.

Cinco segundos antes do momento em que a catei de impulso, ela – que passara a manhã inteira no apartamento como um mico-leão-dourado preso num jaula me vendo corrigir provas, fazer planejamentos e assistir a séries estúpidas da televisão em pleno sábado ensolarado – havia simplesmente me dito: “um dia você vai sentir saudades de quando eu te pedia para descer pra brincar comigo lá fora, porque um dia vou ser gente grande, vou ter meu carro, salto alto, e vou sair para fazer o que quero, assim como você faz o que quer hoje. Vou tomar gelado, andar a noite sem agasalho e andar descalça. E não vou tomar chá de limão com mel nunca mais !”

Foi Luísa, há duas semanas, com cinco anos, cansada de implorar minha atenção.
Para ela, aquilo foi apenas mais uma chantagem que deu certo.
Para mim, a salvação.

8 comentários:

  1. Sr. Diretor (do próprio destino e de pequenas histórias)02 outubro, 2009 19:35

    Sra. blogueira,
    A par de cumprimentá-la pelo sensível e brilhante texto, venho por meio deste apresentar meu mais sincero apreço quanto à sua pessoa. O presente informa que quase consegue visualizar, a poucos centímetros de sua face, a criança proferindo tais palavras na direção de sua genitora. Aduz, ainda, que contrapõe o discurso da menor: você acha mesmo que a Luísa vai querer deixar de ser criança com uma mãezona dessas? Ela tem olhos muito-muito espertos e, mesmo sem poder escolher deixar de crescer, sempre encontrará prazer em ser sua pequena. Gracinha!
    Att,

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  2. Ainda bem que eles vivem nos alertando e que a gente sempre pode voltar atrás, fazer diferente e se render aos apelos deles...

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  3. Nem precisava falar neh... Os bons interpretantes de cara saberiam que se trata da Luisinha.
    Me impreciosa a maneira como você escreve. Esse seu traço literário. Escreve com a beleza, a leveza e a suavidade de uma artista.

    Te adoro!

    Thiago Freire

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  4. Pathy, estava com saudades de vc e desse seu jeito poeta de ver a vida. Luizinha é esperta, mesmo sem agasalho e sem chazinho, quando adulta, vai se virar bem sobre o salto alto.

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  5. Olá Papini,

    Assim como Luisa também pensava que faria o que quisesse quando fosse gente grande (na verdade sempre o fui, hehehe).
    Ah! Se eu soubesse que quanto mais velho a gente fica, menos fazemos o que queremos. Ah! Se eu soubesse que girar livremente no gira-gira é muiuto mais emocionante do que dirigir carro na lentidão de nosso trânsito.
    Não impediria meu crescimento, mas com toda certeza, teria aproveitado mais minha vida de criança e teria deixado este negócio de crescer para depois... Antes que seja tarde!

    Beijos a você e a toda sua família.

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  6. Paty, Obrigada pelo post.Lindo! Saudades, beijos, Thais.

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  7. Amiga, mudei o endereço do blog ( perdi minhas senhas e o antigo está bloqueado, humpf...) Espero vc aqui no http://ancatdubh2.blogspot.com
    beijão!

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